
Nossa República pela ótica dos principais economistas, cientistas sociais e advogados do Brasil No dia 15 de novembro de 1889, no Campo de Santana, no centro do Rio de Janeiro, o marechal Deodoro proclamava o início da nossa República. Éramos à época um país que havia abolido a escravidão recentemente, com a população de apenas 14 milhões de habitantes, dos quais 82% eram analfabetos e 90% viviam em áreas rurais. Agora, em 2019, com 208 milhões de habitantes, somos uma sociedade majoritariamente urbana, com 7% da população analfabeta, mas ainda repleta de contrastes sociais, com índices de desenvolvimento muitas vezes inferiores aos alcançados por países com trajetórias semelhantes à nossa. Para analisar essa história, 39 pensadores brasileiros identificam os desafios, avanços e retrocessos da nossa República em textos curtos que levantam as principais questões dos nossos últimos 130 anos. Cada capítulo do livro cobre uma década e é composto por três textos: um sobre sociedade e política, outro sobre Estado e direito, e outro sobre governo e economia. Seguindo os pontos de vista particulares dos autores, diferentes e complementares entre si, cabe ao leitor juntar as peças do mosaico apresentado para entender o processo que culminou com a República como a conhecemos em 2019 e os desafios que se anunciam para o futuro.
Authors

Rubens Ricupero (born March 1, 1937) is a Brazilian academic, economist, bureaucrat and diplomat. - Nascido em São Paulo em 1937, Rubens Ricupero bacharelou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, ingressou no Instituto Rio Branco em 1958 e iniciou a carreira diplomática em 1961. Embaixador do Brasil junto à ONU (Genebra, Suíça), nos Estados Unidos e na Itália, foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), em Genebra, de 1995 a 2004. Exerceu também funções de governo, tendo sido o primeiro ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, ministro da Fazenda durante a implantação do Real, subchefe da Casa Civil e assessor especial do presidente José Sarney. Durante a campanha e após a eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República, em 1985, atuou como seu assessor para temas de política exterior, experiência que registrou no livro Diário de bordo: a viagem presidencial de Tancredo Neves (2010). Diretor da Faculdade de Economia e Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), professor do Instituto Rio Branco e da Universidade de Brasília e colaborador dos mais influentes órgãos de imprensa do país e de publicações especializadas nacionais e estrangeiras, Ricupero é autor de nove livros sobre história diplomática, política, comércio e economia internacional, entre os quais se destacam Rio Branco: o Brasil no mundo (2000) e O Brasil e o dilema da globalização (2001). A diplomacia na construção do Brasil é sua mais recente obra.

André Pinheiro de Lara Resende nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1951, filho do jornalista e escritor Oto Lara Resende e de Helena Pinheiro Guimarães. Seu avô materno, Israel Pinheiro, foi revolucionário de 1930, constituinte de 1946, deputado federal por Minas Gerais entre 1946 e 1956, prefeito do Distrito Federal de 1960 a 1961, e governador de Minas Gerais de 1966-1971. Seu tio materno, Israel Pinheiro Filho, foi deputado federal por Minas Gerais entre 1967 e 1971. Formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1973, fez o mestrado em economia na Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1975. Posteriormente, em 1979, obteve o título de Phd em economia pelo Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, ainda em 1979 passou a lecionar no Departamento de Economia da PUC-Rio, instituição à qual ficaria ligado até 1988. Paralelamente às suas atividades docentes, em 1980 tornou-se sócio e diretor administrativo do Banco de Investimentos Garantia, aí permanecendo até 1985. De 1984 a 1985, foi também diretor externo da Companhia Ferro Brasileiro, cargo que voltaria a ocupar entre 1987 e 1990. Nos primeiros anos da década de 1980, juntamente com o seu colega de graduação na PUC-Rio, Pérsio Arida, interveio na discussão do processo de transição do regime militar para a democracia, em um momento em que ganhava espaço a proposta de pacto social do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, que viria a ser o candidato da oposição à presidência da República, por eleições indiretas, na suecessão do general João Batista Figueiredo. Preocupado com a superação da crise econômico-financeira que o país atravessava, divulgou, em conjunto com Arida, ideias que viriam a configurar o eixo do artigo “Inertial inflation and monetary reform in Brazil”, publicado pelos dois economistas em 1985 na coletânea organizada por J. Williamson, Inflation and indexation: Argentina, Brazil and Israel (Boston, MIT Press). Indo contra a tradição liberal-monetarista, Lara Resende e Arida explicavam a crise como resultado de uma inflação de tipo inercial. Nessa perspectiva, os êxitos obtidos no combate à inflação eram neutralizados por uma “memória inflacionária” responsável pela incorporação, quando da revisão dos contratos, das taxas mais elevadas observadas no período anterior. Para sustar esse ciclo, eles conceberam um plano, conhecido por “Larida”, que previa a adoção de uma moeda indexada—a OTN (Obrigação do Tesouro Nacional) —, que circularia em paralelo ao cruzeiro e, por ser uma moeda forte, acabaria se sobrepondo à moeda oficial, eliminando-se, assim, o fator de propagação inflacionária. A indexação total da economia conduziria, portanto, à sua desindexação definitiva Integrante do Conselho de Administração do Banco Central em 1985 e 1986, respondendo pelas questões relativas à dívida pública e ao mercado aberto, André Lara Resende foi um dos responsáveis – ao lado de Arida, Edmar Bacha, e dos ministros do Planejamento, João Sayad, e da Fazenda, Dilson Funaro, entre outros – pela elaboração do Plano Cruzado, durante o governo do presidente José Sarney (1985-1990). Esse plano de estabilização econômica anunciado por Sarney em 28 de fevereiro de 1986, inspirava-se na tese de Lara Resende e Arida da inflação inercial, combinada à proposta de “choque heterodoxo”, de autoria do economista Francisco Lopes. Sua meta principal era interromper um processo inflacionário galopante, que havia atingido, naquele mês, a taxa anual de 250%. O plano previa a criação de um novo padrão monetário, o cruzado, de valor mil vezes maior que o do cruzeiro, então abolido, a extinção da correção monetária, a estabilização cambial e o congelamento de preços e salários. Inicialmente bem-sucedido, uma vez que os índices inflacionários caíram consideravelmente, o Plano Cruzado acabou se


José Murilo de Carvalho é um cientista político e historiador brasileiro, membro desde 2005 da Academia Brasileira de Letras. Junto com o jurista e professor Celso Lafer, é o único historiador brasileiro a ser membro dessa Academia e também da Academia Brasileira de Ciências. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais e do IUPERJ por vinte anos, é também professor titular de História do Brasil no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. José Murilo de Carvalho é o sexto ocupante da Cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 11 de março de 2004, na sucessão de Rachel de Queiroz. Foi recepcionado em 10 de setembro de 2004 pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco. (Fonte: Wikipédia, 16/04/2014)


Simon Schwartzman é presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro. Entre 1994 e 1998 foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, antes, professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade de São Paulo, Fundação Getulio Vargas e Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Doutor em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Berkeley, foi professor visitante nas universidades de Columbia, Califórnia/Berkeley, Harvard e Stanford.