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A partir de uma história da delinquência e do modo como esse fenómeno foi socialmente percebido e juridicamente tratado, durante um determinado período da vida portuguesa (os anos trinta e quarenta), O Sangue e a Rua constitui uma abordagem pioneira da temática da violência, que a sociologia e a antropologia tantas vezes preferem ignorar. O esforço de sistematização e de aprofundamento realizado por João Fatela num terreno quase virgem de estudos científicos prévios não o levou contudo à elaboração de uma obra de difícil leitura ou de interesse exclusivamente técnico. Pelo contrário, o presente ensaio - nascido da reformulação de uma tese de doutoramento pelo autor apresentada na Universidade de Paris VII -, é sem favor um livro de leitura aliciante, não deixando por isso de dar acesso a um universo que a maioria das pessoas só conhece de forma fragmentária (ou especulativa) graças às notícias dos jornais. Nas palavras do autor, "a memória é um espaço imaginário, falado e recriado pêlos inúmeros caminhos que nela se cruzam, e que faz da realidade outra realidade. Por isso, mais do que a maneira como cada um se deixa transportar pela memória do crime, o que conta é que esta memória se ponha a falar". Projecto que passa, como testemunha a última parte do livro, pelo levantamento do modo como o próprio imaginário desafiou a ordem nascente do salazarismo, através da evocação da sempre fascinante e renovável figura do criminoso e do mito do "bas-fond" como contrapontístico lugar onde a norma, mais do que abolir-se, não cessa de se transfigurar. Índice Apresentação - 13 Introdução - 25 PRIMEIRA PARTE—O SANGUE Capítulo I—A proximidade e o conflito - 47 Capítulo II—A lógica da vingança—uma proposta de interpretação - 63 Capítulo III—Territórios de violência - 85 Capítulo IV—Violência lúdica, violência ritual - 119 SEGUNDA PARTE— ...E A RUA Capítulo I—Reciprocidade e sobrevivência - 155 Capítulo II—Vadios, infiéis - 177 Capítulo III—A ordem contra o conflito - 239 Bibliografia sumária - 251