
A relação entre a literatura e a vida sob a opressão política é o fio condutor dos ensaios de Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio (Immer derselbe Schnee und immer derselbe Onkel, 2011), de Herta Müller, escritora alemã vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2009. Com o volume, o selo Biblioteca Azul da Globo Livros – casa editorial da escritora no Brasil – dá continuidade à publicação das obras da escritora, que já conta com o romance O compromisso, lançado em 2004, e os contos de Depressões, seu livro de estreia, que ganhou edição brasileira em 2010. Os ensaios dão conta da ligação entre criação artística e experiência pessoal, marcada pelos efeitos do terror e da repressão impostos pelo ditador Nicolau na Romênia, onde Herta Müller viveu antes de partir para a Alemanha. Em Cristina e seu simulacro, ela relata como, durante a época em que trabalha como tradutora em uma fábrica, é intimada a converter-se em espiã da polícia secreta romena. Numa reviravolta irônica e trágica, após recusar a proposta mesmo sob ameaças, passa a ser vista pelos colegas como colaboradora e é isolada: os mecanismos de difamação da ditadura impõem a punição velada. Em Um corpo tão grande e um motor tão pequeno, a escritora apresenta a figura do pai, motorista de caminhão e alcoólatra que ingressara voluntariamente na SS durante o regime de Hitler. Depois de sua morte é que Herta Müller começa a escrever. A mãe, que foi deportada pelo regime comunista e passou cinco anos num campo de trabalhos forçados, é apresentada no ensaio que dá título ao livro. É por esse caminho, entremeando memórias da infância e da juventude e relatos vívidos do cotidiano sob a vigilância da política secreta, que a escritora chega às reflexões sobre a importância da literatura, “que pode inventar, por meio da língua, uma verdade que mostra o que acontece ao nosso redor quando os valores descarrilam”. Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio traz também o discurso de agradecimento de Herta Müller por ocasião da entrega do prêmio Nobel de Literatura. Os próximos livros da autora publicados pelo selo Biblioteca Azul serão Herztier (A terra das ameixas verdes, título provisório), Der König Verneigt Sich Und Tötet (O rei faz uma reverência e mata, título provisório) e Der Fuchs War Damals Schon Der Jäger (Naquela época, o lobo já era o caçador, título provisório).
Author

Herta Müller was born in Niţchidorf, Timiş County, Romania, the daughter of Swabian farmers. Her family was part of Romania's German minority and her mother was deported to a labour camp in the Soviet Union after World War II. She read German studies and Romanian literature at Timişoara University. In 1976, Müller began working as a translator for an engineering company, but in 1979 was dismissed for her refusal to cooperate with the Securitate, the Communist regime's secret police. Initially, she made a living by teaching kindergarten and giving private German lessons. Her first book was published in Romania (in German) in 1982, and appeared only in a censored version, as with most publications of the time. In 1987, Müller left for Germany with her husband, novelist Richard Wagner. Over the following years she received many lectureships at universities in Germany and abroad. In 1995 Müller was awarded membership to the German Academy for Writing and Poetry, and other positions followed. In 1997 she withdrew from the PEN centre of Germany in protest of its merge with the former German Democratic Republic branch. The Swedish Academy awarded the 2009 Nobel Prize in Literature to Müller, "who, with the concentration of poetry and the frankness of prose, depicts the landscape of the dispossessed". She currently resides in Berlin, Germany.