
Dois poemas circunscrevem o territorio poetico em que transitam os textos deste ultimo volume de Ana Luisa o que lhe serve de abertura intitula-se SILENCIOS e o que o fecha, VOZES. Assim, no plural, silencios e vozes remetem-nos, em primeira instancia, a experiencias concretas na relacao miuda e cotidiana com os seres e objetos, lugares e momentos, emocoes e afetos, que, nao obstante, nos atingem de forma pontual e unica / o fio mais afiado que punhal. Mas, por outro lado, defrontamo-nos tambem com o silencio e a voz, demarcadores de uma linguagem que se reconhece, antes de mais nada, como o lugar da falha, da falta, da incoincidencia, e nele aceita instalar-se, exibindo-o, ao mesmo tempo que procura frestas por onde escapar. A inscricao minuciosa da busca desses caminhos, com os seus desvios, correcoes de percurso e becos sem saida, e nao so um tema preferido, mas um procedimento constitutivo da poesia de Ana Luisa Amaral. Para ele contribuem a violencia operada sobre a sintaxe, por meio de elisoes e suspensoes, ou as alteracoes bruscas na diccao; para o mesmo fim, trabalham as revisitacoes de certos poemas, corrigindo-os, ampliando-os ou explicitando sentidos que antes tinham estado subentendidos talvez. Preferindo, contudo, deixar visivel o que neles rasura, e insistindo igualmente no registro da sua propria hesitacao ou luta, a poeta rejeita a forma mais discreta que a escrita (ao contrario da fala, que nao pode apagar o improprio) lhe permitiria. Assume, dessa maneira, para usar uma palavra que lhe e cara, a imperfeicao como dado ineludivel do existir e do dizer. Alem de retrabalhar os seus proprios poemas, revisita tambem textos de outros autores, as vezes com um grau alto de fidelidade, como na traducao de Rilke; outras, rasurando parcial ou mesmo quase completamente o texto reinventa, assim, a tragica historia do mitico par amoroso, Pedro e Ines, ao por em cena, em tom burlesco, um casal contem
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