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De 1935 a 1974, 22 mulheres foram deputadas à Assembleia Nacional do Estado Novo, representando somente 3,3% do total, o que não era muito diferente do que se passava noutros países europeus. Em termos socioprofissionais, encontramos sobretudo professoras e assistentes sociais. Algumas colaboraram com organizações femininas do regime, como a Mocidade Portuguesa Feminina, a Obra das Mães pela Educação Nacional e o Movimento Nacional Feminino. Constituíram claramente uma elite que saiu da esfera do privado para a do público, acabando-se, um pouco a contratio sensu, por inverter a escala de valores defendidas pelo regime para o sexo feminino e que elas próprias ajudavam a divulgar. Tudo o que se relacionava com a educação e as políticas sociais ocupou as atenções das deputadas do Estado Novo, embora outras temáticas não tenham ficado de fora. A partir do momento em que se criaram círculos eleitorais (1945), certas parlamentares entenderam que deveriam agir como porta-vozes dos mesmos, chegando algumas das intervenções a pecar por algum bairrismo, embora tal só se verifique a partir de 1969. Entretanto, tudo o que ao ultramar dizia respeito, da guerra colonial às necessidades e reivindicações das populações extraeuropeias, esteve presente nas preocupações de algumas delas a partir de 1961. Estas deputadas não raro recordaram a sua condição de mulheres, arvorando-se, por vezes, em representantes do sexo feminino na Assembleia Nacional. Algumas das temáticas por elas abordadas estavam, por seu turno, relacionadas com o sexo a que pertenciam, a saber: as licenças de parto para as trabalhadoras, o aborto, a prostituição, o voto feminino e, ainda, a possibilidade de as mulheres poderem vir a aceder a profissões que até aí lhes estavam vedadas. Estas 22 mulheres, assim como os seus colegas homens, acreditaram num regime inicialmente em construção, que depois se foi consolidando, que, como todos os outros, atravessou crises e que, finalmente, baqueou. Houve, contudo, as que, tendo começado por crer ser possível ajudar a mudar o muito que consideravam estar errado, concluíram depois que pouco ou nada havia a fazer a esse respeito; outras deixaram de se rever nas orientações políticas fundamentais.
Author

PAULO CÉSAR DRUMOND BRAGA nasceu em Angra do Heroísmo, a 31 de Outubro de 1965. Licenciado em História, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1987), mestre em História da Idade Média (1992) e doutor em História dos Descobrimentos e da Expansão pela mesma instituição (1997). Lecciona desde 1997 na Escola Superior de Educação Almeida Garrett (Lisboa), sendo investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED) da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto (CEPESE). Participou, como comunicante, em numerosos congressos científicos realizados em Portugal, Espanha, Alemanha, Itália e Brasil e é autor de cerca de uma centena de artigos saídos em revistas portuguesas, espanholas e brasileiras. Entre as suas numerosas publicações (artigos e livros), cujos temas revelam o seu ecletismo em termos de investigação histórica, destacam-se já algumas abordagens biográficas. É autor dos seguintes livros: A Inquisição nos Açores (1997); Ceuta Portuguesa (1415-1656) (1998) (em colaboração com Isabel M. R. Mendes Drumond Braga); Setúbal Medieval. Séculos XIII a XV (1998); História dos Cães em Portugal. Das Origens a 1800 (2000); D. João III (2002); Coimbra e a Delinquência Estudantil (1580-1640) (2003); Do Crime ao Perdão Régio (Açores, Séculos XVI-XVIII )(2003); Leite. Biografia de um Género Alimentar (2004); Portugueses no Estrangeiro, Estrangeiros em Portugal (2005); D. Pedro II. Uma Biografia (2006); A Princesa na Sombra. D. Maria Francisca Benedita (1746-1829) (2007); O Príncipe D. Afonso, filho de D. João II. Uma Vida entre a Guerra e a Paz (2008); Torres Vedras no Reinado de Filipe II. Crime, Castigo e Perdão (2009); Filhas de Safo. Uma História da Homossexualidade Feminina em Portugal (Séculos XIII-XX) (2010); Duas Rainhas em Tempo de Novos Equilíbrios Europeus. Maria Francisca Isabel de Saboia. Maria Sofia Isabel de Neuburg (2011); D. Maria (1521-1577), uma Infanta no Portugal de Quinhentos (2013); D. Pedro III. O Rei Esquecido (2013); A Rainha Discreta. Mariana Vitória de Bourbon (2014); À Cabeceira do Rei. Doenças e Causas de Morte dos Soberanos Portugueses entre os Séculos XII e XX (2014).