
Este livro é uma seleção dos textos místicos de Fernando Pessoa: Pessoa escreveu sobre a alma humana, este é todo o seu misticismo; e conforme tantos outros poetas da alma, para saber realmente quem foram, quem são, teríamos antes de saber quem somos, em nossa essência mais profunda, inefável, transcendente... Teríamos, como os Rumi, as Teresa D'Ávila, os Tagore, os Gibran e os Pessoa, de haver conhecido a Alma face a face. A Rua dos Douradores não existe em Portugal nem em canto algum, mas existe sempre. Tudo o que foi imaginado existe. E tudo o que foi imaginado no Reino da Alma existe eternamente, existe sempre. Isto que estou a falar não pode ser falado - isto é mitologia pura. Todos os símbolos da mitologia, afinal, dizem respeito a você: Você enfrentou aos deuses monstruosos de sua própria alma? Você venceu e apaziguou os seus demônios interiores? Você despertou de sua vida de sonolência animal para uma nova vida onde pode ver, finalmente, que há só uma única Alma que está em tudo, e que você mesmo é também uma pequena parte dela? "Deus é a alma de tudo" - concluiu o próprio guarda-livros num de seus lampejos de consciência desperta... Em nossa essência mais profunda, somos como heterônimos de algum Escritor oculto, somos um com o ser transcendente. Mas isto que quero tentar dizer não foi dito aqui, e nem em qualquer parte da obra pessoana. Pois isto não se diz com palavras, com cascas de sentimento... Para isto existe a poesia, que diz alguma coisa, sem realmente haver dito. Este meu translado pela mitologia pessoana foi apenas o querer dizer alguma coisa, e não haver dito nada. Para aqueles que já conheciam a obra de Pessoa, estas seleções talvez tragam algumas boas recordações. Para aqueles que nunca o leram antes, quero crer que estas seleções lhes sirvam como uma "introdução mística" ao seu pensamento. A única coisa que este livro não é, nem pretendeu ser, é um livro acadêmico. Notas de rodapé vocês encontrarão aos montes em outras seleções (nada contra as notas de rodapé nem contra as outras seleções, muitas delas muito superiores a esta, que é apenas uma pequena declaração de amor ao poeta que foi muitos)... O editor.
Author

Fernando António Nogueira Pessoa was a poet and writer. It is sometimes said that the four greatest Portuguese poets of modern times are Fernando Pessoa. The statement is possible since Pessoa, whose name means ‘person’ in Portuguese, had three alter egos who wrote in styles completely different from his own. In fact Pessoa wrote under dozens of names, but Alberto Caeiro, Ricardo Reis and Álvaro de Campos were – their creator claimed – full-fledged individuals who wrote things that he himself would never or could never write. He dubbed them ‘heteronyms’ rather than pseudonyms, since they were not false names but “other names”, belonging to distinct literary personalities. Not only were their styles different; they thought differently, they had different religious and political views, different aesthetic sensibilities, different social temperaments. And each produced a large body of poetry. Álvaro de Campos and Ricardo Reis also signed dozens of pages of prose. The critic Harold Bloom referred to him in the book The Western Canon as the most representative poet of the twentieth century, along with Pablo Neruda.