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Orpheu
Series · 2 books · 1915-2025

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#1

Orpheu #1 Revista Trimestral de Literatura

1915

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#3

Revista Orpheu Nº 3

2025

Nascido o projecto de Orpheu, em Fevereiro de 1915, os primeiros dois números saíram rapidamente, em Março e em Junho. Mas a publicação de Orpheu 3 arrastou-se, dando azo a vários sumários bastante diversificados, até que quase, quase conseguiu sair. E nesse estado de “quase” ficou para sempre: em provas tipográficas impressas em Julho de 1917, sem capa e sem a colaboração de Álvaro de Campos (1), que fazia imensa falta. É claro que a principal dificuldade foi financeira, uma vez que o pai de Sá-Carneiro—patrocinador de Orpheu 1 e 2 — fechara a torneira, mas havia outra: era difícil arranjar boas colaborações. Em Julho ou Agosto de 1915, Pessoa escrevera para Macau, na esperança de poder dedicar cerca de dez páginas de Orpheu 3 a um dos maiores poetas portugueses, Camilo Pessanha, então praticamente inédito. Deixou de o ser, porém, em Dezembro de 1916, quando Luís de Montalvor publicou, na revista Centauro, os mesmos poemas de Pessanha que Pessoa queria divulgar em Orpheu. Os bons poetas e prosadores portugueses não abundavam e nem todas as colaborações para Orpheu 3 — como bem observou Arnaldo Saraiva na edição do número que organizou para a Ática (1984) — são memoráveis. Analisando friamente os conteúdos dos três números da revista, temos, aliás, de concordar com Teresa Rita Lopes (PÚBLICO, 24.iv.2015) quando afirma que a revista Orpheu não trouxe assim tanto de literatura realmente nova e modernista. Fernando Cabral Martins, no seu também excelente artigo sobre Orpheu para o PÚBLICO (23.v.2015), refere a “paixão da Vanguarda” e a revolta contra as convenções que ligavam os membros do grupo, mas esta paixão e esta revolta concentravam-se, sobretudo, em três figuras: Fernando Pessoa (acolitado pelo seu heterónimo Álvaro de Campos), Mário de Sá-Carneiro e José de Almada Negreiros. Foram também eles que colaboraram com obras que podemos apelidar de “modernistas”. O espírito revolucionário (literariamente falando) começou a manifestar-se em Pessoa e Sá- Carneiro e foi contaminando os outros—até de modo clandestino. Ao reverem as provas do primeiro número, os dois amigos deixaram passar gralhas existentes na Introdução de Luís de Montalvor, porque “assim ainda se entende menos” (segundo Sá-Carneiro disse a Pessoa), e permitiram que um soneto de Ronald de Carvalho saísse mal pontuado para criar um efeito mallarmeano. Estas pequenas maldades foram altamente significativas, uma vez que Montalvor e Carvalho eram os co-directores oficiais do primeiro número e de revolucionário tinham pouco ou nada. Fernando e Mário deram um jeitinho para que a revista incomodasse as sensibilidades pacatas logo no seu arranque. E, de facto, incomodou. Outros colaboradores absorveram espontaneamente as lições dos dois verdadeiros chefes. A poesia do açoriano Armando Côrtes-Rodrigues, publicada em seu próprio nome (1.º número) ou no de Violante de Cysneiros (2.º número), compartilhava temas e até uma certa habilidade fingidora patentes em Pessoa e Sá-Carneiro. Regressado aos Açores, este poeta voltaria a escrever versos dotados de muito sentimento mas pouca originalidade. O “aluno” mais curioso era C. Pacheco, autor de um poema de grande fôlego, “Para Além Doutro Oceano”, impresso nas provas tipográficas de Orpheu 3. Em virtude de algumas das suas estrofes recordarem ora Álvaro de Campos, ora Alberto Caeiro, ora Fernando Pessoa ele mesmo, pensou-se durante muitas décadas que se tratava de mais um heterónimo. Embora fossem surgindo provas do contrário, a dúvida persistiu até 2011, quando Ana Rita Palmeirim, neta de José Coelho Pacheco, revelou originais do poema na posse da família. Pacheco escreveu outras coisas—em poesia e em prosa —, mas acabou por abandonar a literatura por outra paixão, os automóveis, tornando-se dono de um stand. Realmente transformado por Orpheu foi Almada Negreiros. Os seus “Frisos”, pequenos contos poéticos, foram quase a sua primeira publicação literária (em Orpheu 1) e ele encarnou o espírito contestatário da revista como nenhum outro colaborador. A virulência e a forma incisiva da sua “A Cena do Ódio”, que integra as provas do n.º 3, têm paralelo no Ultimatum de Álvaro de Campos, mas o texto de Almada é anterior (datando da revolução de Maio de 1915). Almada, mais ainda do que Pessoa, conservaria muito viva a memória de Orpheu, pois correspondeu ao seu momento de afirmação enquanto artista. Não se pode dizer que Orpheu teve a mesma importância para a formação de Fernando Pessoa (e ainda menos de Sá-Carneiro, morto em 1916), porém duas das obras maiores de Pessoa-Campos devem a sua existência à revista. A “Ode Triunfal” fora composta em 1914 (embora não no “Dia Triunfal” nem “num jacto, e à máquina de escrever”, como contaria Pessoa em 1935), mas o “Opiário” foi especialmente escrito para Orpheu 1. Na sequência do succès de scandale obtido por Campos no primeiro número, Pessoa resolveu ir mais longe, escrevendo a chocante e gloriosa “Ode Marítima”, o mais esplendoroso poema em língua portuguesa do s...

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Mário de Sá-Carneiro
Mário de Sá-Carneiro
Author · 13 books

Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu. Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo, ou o saudosismo, então em franco declínio; posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo. Nessas pôde exprimir com vontade a sua personalidade, sendo notórios a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação; ao mesmo tempo, revela um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu «eu» no mundo – revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente. O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais (era órfão de mãe desde a mais terna puerícia), levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, traduzível numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesi de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava – sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio. Embora não se afaste da metrificação tradicional (redondilhas, decassílabos, alexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus ataques à gramática, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse estilo clássico, numa segunda, claramente niilista, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade autêntica, triste e trágica. Por fim, as cartas que trocou com Pessoa, entre 1912 e o seu suicídio, são como que um autêntico diário onde se nota paralelamente o crescimento das suas frustrações interiores.

José de Almada Negreiros
José de Almada Negreiros
Author · 6 books

Escritor e artista plástico, José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe a 7 de Abril de 1893. Foi um dos fundadores da revista Orpheu(1915), veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa. Além da literatura e da pintura a óleo, Almada desenvolveu ainda composições coreográficas para ballet. Trabalhou em tapeçaria, gravura, pintura mural, caricatura, mosaico, azulejo e vitral. Faleceu a 15 de Junho de 1970 no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, no mesmo quarto onde morrera seu amigo Fernando Pessoa. As duas orientações de busca e criação de Almada Negreiros foram a beleza e a sabedoria. Para ele "a beleza não podia ser ignorante e idiota tal como a sabedoria não podia ser feia e triste" (Freitas, 1985). Almada Negreiros foi um pintor-pensador. Foi praticante de uma arte elaborada que pressupõe uma aprendizagem que não se esgota nas escolas de arte; bem pelo contrário, uma aprendizagem que implica um percurso introspectivo e universal. Vulto cimeiro da vida cultural portuguesa durante quase meio século, contribuiu mais que ninguém para a criação, prestígio e triunfo do modernismo artístico em Portugal.

Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho
Author · 1 books
Ronald de Carvalho (May 16, 1893 – February 15, 1935) was a Brazilian poet, writer, politician and diplomat from Rio de Janeiro.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Author · 99 books

Fernando António Nogueira Pessoa was a poet and writer. It is sometimes said that the four greatest Portuguese poets of modern times are Fernando Pessoa. The statement is possible since Pessoa, whose name means ‘person’ in Portuguese, had three alter egos who wrote in styles completely different from his own. In fact Pessoa wrote under dozens of names, but Alberto Caeiro, Ricardo Reis and Álvaro de Campos were – their creator claimed – full-fledged individuals who wrote things that he himself would never or could never write. He dubbed them ‘heteronyms’ rather than pseudonyms, since they were not false names but “other names”, belonging to distinct literary personalities. Not only were their styles different; they thought differently, they had different religious and political views, different aesthetic sensibilities, different social temperaments. And each produced a large body of poetry. Álvaro de Campos and Ricardo Reis also signed dozens of pages of prose. The critic Harold Bloom referred to him in the book The Western Canon as the most representative poet of the twentieth century, along with Pablo Neruda.

Álvaro de Campos
Álvaro de Campos
Author · 5 books

A heteronym of Fernando Pessoa. Álvaro de Campos was born in Tavira on October 15th 1890 at 1.30 pm. He had a normal high school education; and was later sent to Scotland to study Engineering, first mechanical, then naval. A holiday trip to the East resulted in the Opiário. An uncle from the Beiras region of Portugal, who was a priest, taught him Latin. Vaguely Jewish-Portuguese, pale olive skin, straight hair, usually side parted, wore a monocle. In his letter, source for this text, to Adolfo Casais Monteiro, dated Janeiro 13th 1935, Fernando Pessoa writes on the birth of heteronomy as Campos, "when I felt a sudden impulse to write and didn’t know what of", he then adds "suddenly and moving in opposite direction to Ricardo Reis, a different character impetuously emerged. In a flash, at the typewriter, free of interruption or revision, Alvaro Campos' Triumphal Ode was born—the Ode of this name and the man of the man he was." A little further he clarifies: "When Orpheu was published, I needed something, at the last minute, to achieve the number of pages. Sá-Carneiro therefore suggested I wrote and "old" poem by Álvaro de Campos written before meeting Caeiro and being influenced by him. I therefore wrote Opiário, where I tried to apply all of Alvaro de Campos’ latent tendencies by which he would later come to be known for, but omitting any trace of contact from his master Caeiro. It was one of the hardest poems I have ever written, due to the double effort of depersonalization that I had to develop. But, oh well, I think it came out alright, a budding Álvaro…"

Armando Côrtes-Rodrigues
Armando Côrtes-Rodrigues
Author · 2 books
Armando César Côrtes-Rodrigues (1891-1971) nasceu em Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel, Açores, e faleceu em Ponta Delgada. Era filho do poeta César Rodrigues. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa (1910-1915), tendo, nessa altura, conhecido Fernando Pessoa e integrando-se no Grupo do Orpheu. Colaborou nos dois primeiros números da revista com vários poemas, alguns dos quais assinados com o pseudónimo Violante de Cisneiros (Orpheu 2). Regressa aos Açores em 1917, onde se dedica ao ensino, vindo a trocar correspondência com Fernando Pessoa. Longe do continente, entrega-se ao estudo da etnografia açoriana e a uma poética de pendor religioso. Colabora, entretanto, na revista Presença, Cadernos de Poesia, Atlântico, etc. Em 1953, ganhou o Prémio Antero de Quental com o livro Horto Fechado e Outros Poemas.
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