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Poesias Completas
1990
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A meio do século passado já me apercebera, confusamente, que tanto ou mais do que eu estavam doentes as palavras... “A meio do século passado já me apercebera, confusamente, que tanto ou mais do que eu estavam doentes as palavras. Uma terapêutica, a do alambique, levaria à meditação do branco sobre o branco, e no melhor dos casos ao silêncio. A da ignição, se permitia revelações—nos teus bonitos, banais, olhos castanhos, o favor do seu "verde secreto" — carregava ainda as execráveis maiúsculas "Amor, Aventura, Poesia", e com elas a fantasmagoria do sagrado, a "vida mentirosa, mental". Outra começava em No Reino da Dinamarca, dura e feroz como a abrir nos fora dito: "diamante cruel". Supunha um diagnóstico: o destino como "solidão e mágoa", o "quotidiano não", a vida que "não vivemos", a vizinhança do grotesco normal, do vil decente, e ainda, contudo, o beijo do "jovem amor que recebeu / mandado de captura ou de despejo". Sobretudo, para quem lia ou, pior, escrevia versos, mandava romper com a "poética poesia", afastar os "cabeleireiros de palavras, / pirotécnicos do estupor", lutar contra o "bonito" para fazer "bom". Noutra aparentemente diversa circunstância, quanta merecida e salutar bofetada nos dá O’Neill. Ir, ao contrário, buscar saúde à linguagem doente, no sarcasmo e no jogo, no sem cerimónia e no impuro; e a meio, dizer serenamente algumas verdades decisivas, algumas emblemáticas: que o medo "tudo vai ter" ou o "remorso de todos nós". Mallarmé, — "a tristeza é que não há por lustro um", decerto sob o lustre – não se limitava, não se limita para nós, a reduzir o pobre mundo nosso às sobras do poema; diz-nos antes que a poesia pode e deve atravessar a realidade toda, até ao singular e insigificante, e ao impossível que lhe resiste, tipo mosca Albertina. Tornar-se livro o mundo, é tornar-se mundo o livro, e ainda, não coincidirem nunca.” António Franco Alexandre in A Phala Reedição da Assírio & Alvim da obra de Novembro de 2000.

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Author

Alexandre O'Neill
Alexandre O'Neill
Author · 2 books
Autodidacta, O’Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa. É nesta corrente que publica a sua primeira obra, o volume de colagens A Ampola Miraculosa, mas o grupo rapidamente se desdobra e acaba. As influências surrealistas permanecem visíveis nas obras dele, que além dos livros de poesia incluem prosa, discos de poesia, traduções e antologias. Não conseguindo viver apenas da sua arte, o autor alargou a sua acção à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar». Foi várias vezes preso pela polícia política, a PIDE.
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